sexta-feira, 13 de maio de 2011

A cobra no supermercado

Não tem nada que dê mais prazer a certas pessoas do que um boato. Ah! Tem gente que  conta um boato com tantos detalhes e com uma convicção tão grande, que termina ela própria acreditando que tudo é verdade. E se reta com quem duvida!


Outra característica do boato é que, em 99,99% dos casos, é notícia ruim. Você lembra  algum boato de notícia boa? Só se for pra quem criou o boato. Sempre é alguma coisa que assusta, que causa temor coletivo.


Nos últimos dias, por exemplo, surgiu um boato, em Salvador, de que pessoas em um carro preto estão raptando crianças em bairros pobres, pra vender os órgãos. A polícia já disse que não tem uma única queixa de criança desaparecida, levada em um carro preto, mas o boato continua correndo ruas, becos e afins.


Em Feira de Santana, segunda maior cidade da Bahia, já aconteceram alguns boatos que tomaram conta da cidade.


Um dia, o Jornal Nacional mostrou que bandidos, numa cidade lá pelo Sul do Brasil, faziam uma determinada marca no muro de residências, escolhendo-as-as para serem arrombadas. Veja se ladrão vai marcar a casa que ele vai arrombar!


Pois bem, no dia seguinte, cidadão ligou para as rádios de Feira de Santana, dizendo que várias casas do conjunto Feira VI estavam com as mesmas marcas. Repórteres foram ao local, mas o “denunciante” não apresentou uma residência sequer “escolhida” pelos bandidos.


Mas a história das marcas se espalhou e muita gente olhava todo dia a porta da rua pra ver se tinha sido “sorteada” pelos ladrões.


Houve um tempo em que rolou a história de um cara com uma seringa cheia de sangue contaminado com AIDS, circulando por tudo quanto era canto, entrando em ônibus, correndo atrás de menino e mulher, pra esparramar a doença.


“Testemunhas” chagavam a narrar nas rádios que o sujeito não se conformava em ter contraído a doença e queria compartilhar a desgraça com outras pessoas. Nunca houve o registro de um só caso de alguém atacado, nem em hospital, nem na polícia.


Depois, veio o boato de que uma menina, de 10 anos, tinha sido picada por uma cobra que estava no meio de hortaliças, em um grande supermercado da cidade. Também nunca houve qualquer registro do inusitado ataque.


E teve um colega do departamento de circulação de A Tarde que se zangou feio comigo porque eu me neguei a fazer uma matéria sobre esse boato da cobra. Imagine!  


Mas o maior boato da Feira de Santana foi o do Bicho do Tomba. Alguém aí lembra?                 

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