Final da década de 70, o general Moraes Rêgo, um dos mais destacados no comando do Exército, estaria presente numa solenidade no 35º Batalhão de Infantaria, sediado em Feira de Santana, a segunda maior cidade da Bahia.
A proposta de anistia ampla, geral e irrestrita ganhava corpo a cada dia e o general tinha uma opinião de peso a respeito do assunto, sendo favorável. Por isso, o editor do Feira Hoje na época, jornalista José Carlos Teixeira, determinou a cobertura do evento e, claro, uma entrevista com o militar.
O chefe de Reportagem do diário, jornalista José Fernandes, me escalou com a fotojornalista Rosa Maria para o trabalho.
A solenidade aconteceu num palanque armado no grande pátio frontal do 35º Batalhão. Em seguida, todas as autoridades e a imprensa foram convidadas para um coquetel, no andar superior do prédio do comando da unidade, onde também aconteceria a entrevista coletiva com Moraes Rego.
Um grande grupo subia as escadas. Eu era um dos últimos, bem lá atrás, quando um militar (não me recordo a patente) me segurou pelo braço e disse:
- Você não vai subir
Perguntei qual o motivo de estar sendo barrado, argumentando que outros colegas da imprensa, inclusive a fotógrafa do jornal que eu trabalhava, já estavam entrando na sala do coquetel para a entrevista com o general. Ele não apresentava nenhuma justificativa e apenas repetia que eu não subiria, me segurando pelo braço.
Fiquei indignado com aquela atitude. Comecei a falar bem alto e a forçar a subida, mesmo ele me puxando pra baixo. Eu praticamente já estava gritando que ia subir, sim, pra participar da entrevista, quando apareceu no alto da escada um tenente (não lembro o nome) que era relações públicas do batalhão.
- O que está havendo, o que é isso?
- Esse cara está me proibindo de participar da coletiva – respondi
- Deixe que eu cuido disso, deixe comigo – disse o tenente ao militar, que só assim resolveu me soltar.
Cumpri meu trabalho, tomei uns drinques e, quando descia pra ir embora, percebi o militar postado no pé da escada, olhando firmemente pra mim. Passei por ele e falei:
- Eu não disse que eu subia!?
Ele me acompanhou, sem dizer uma palavra, até a saída do Batalhão. E até hoje eu não sei porque ele me escolheu pra ser barrado na entrevista. Se é que ele tinha realmente um motivo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário